NENHUMA
GREVE GERAL É GERAL PORQUE TODOS OS TRABALHADORES E ORGANIZAÇÕES SINDICAIS
ADEREM – ESTA ÚLTIMA FOI MAIS UMA GRANDE GREVE GERAL
SAUDAÇÃO E SOLIDARIEDADE
Por Américo Nunes[1]
Em primeiro
lugar, a greve geral é geral porque uma central sindical a convoca e prepara
apelando a todos os trabalhadores para participarem nela porque considera que
esta forma de luta é a mais apropriada para num determinado momento, contexto
social e político defender direitos, combater os despedimentos e outras políticas
de rapina e espoliação dos trabalhadores e das suas famílias. No caso actual,
as razões e objectivos para a realização desta forma de luta são de tal monta,
tão evidentes para toda gente que nem merece a pena darmo-nos ao trabalho de as
enumerar. Também não deixa de ser geral só porque a UGT ou outras organizações
sindicais não participam. Pudera! A UGT assinou por baixo e de cruz o pacote de
malfeitorias que a TROIKA e o governo lhe puseram à frente, e agora ia fazer
greve contra as suas consequências negativas...
Como
activista sindical desde 1970, dirigente do meu sindicato desde o dia 29 de
Abril de 1974 até aos dias de hoje e da CGTP-IN em 1975/77 e desde 1983 até
2004, participei nas discussões, deliberações, na organização e dinamização de
centenas de greves de empresa, de muitas dezenas de greves sectoriais, em todas
as greves gerais realizadas em Portugal depois do 25 de Abril, até à de 10 de
Dezembro de 2002.
Cada greve é
completamente diferente da outra, no grau de adesão, no impacto social e
político, no grau de ferocidade com que são combatidas pelos governos,
patronato e os seus ajudantes encapotados, mesmo quando de forma cínica dizem
que a greve é um direito dos trabalhadores.
Da minha
experiência grevística, entre muitas coisas posso dizer-vos, uma é que sempre
que ouvia um trabalhador ou mesmo um delegado ou dirigente sindical dizerem, às
vezes com o discurso mais radical de todos “eu só faço greve se todos a
fizerem” ou, eu só estou de acordo se a UGT também fizer, eu já sabia que este
não queria fazer greve.
OS TEÓRICOS
DA GREVE COMENTADORES E “CONTADORES” DO NUMERO DOS MANISFESTANTES E GREVISTAS
DAS ACÇOES PROMOVIDAS PELA CGTP - IN
A violentíssima
ofensiva em curso contra os direitos dos trabalhadores e do povo, só pode ser
levada a cabo pelos seus perpetradores atacando de todas as formas e por todos
os lados as organizações sociais e politicas com capacidade para se lhe oporem
e resistir, a fim de as enfraquecer para conseguirem os seus objectivos. Neste
momento a grande burguesia portuguesa tem toda a artilharia pesada a disparar
sobre os sindicatos e a CGTP-IN, única verdadeira central sindical que temos no
nosso país.
Uma das mais
despudoradas linhas desse ataque nesta última greve chega-nos através da
comunicação social política e economicamente controlada pelos grandes grupos
financeiros, e por arrastamento também da NET.
Jornalistas
e comentadores mercenários ou ingénuos convencidos que são o quarto poder e totalmente
independentes e objectivos, sentados numa cadeira, quantos sem jamais terem
tido a coragem de fazer uma greve e sentido na pele a repressão objectiva e
subjectiva que desse acto de rebeldia, protesto e coragem quase sempre nos cai
em cima, opinam sobre o que foi feito e como não deveria ter sido feito,
detectam mil e um defeitos e fraquezas nos sindicatos, acusam-nos, e atacam os
seus dirigentes. Destilam veneno ideológico de classe, mas poucos reparam que
ao nível dos meios, a luta entre trabalho e capital é semelhante à de David e
Golias. Dizem que foi uma greve apenas dos transportes porque aí via-se bem e
seria escandaloso negarem-na.
As opiniões
a transmitir são recolhidas nas estações, inevitavelmente a quem não está com a
greve ou nem sequer se apercebeu dela, se não não estava ali, ou nos centros de
saúde e urgências hospitalares, onde naturalmente qualquer doente se lamentará
sobre os efeitos da greve para a sua saúde, numa linha de indução insidiosa e
preconcebida contra a greve.
O caso do
tiro ao alvo ao novo secretário-geral da CGTP-IN Arménio Carlos, há apenas dois
meses no cargo, é exemplificativo dos métodos sujos utilizados para atacar uma
grande organização de trabalhadores com centenas de milhares de trabalhadores,
mais de 4 mil dirigentes e mais de 15 mil delegados sindicais. Apontam
defeitos, fazem comparações estúpidas, elencam falsas fraquezas. Atacam o homem
para atingirem a organização e em última instância os trabalhadores. E nalguns
casos atacam-no eventualmente por despeito por estarem à espera que tivesse
menos qualidades e capacidade no desempenho das funções que lhe foram
atribuídas pelo Conselho Nacional no último congresso, desempenho que até agora
tem sido notável num contexto político e social de grande exigência para os
sindicatos e de grande complexidade organizacional, na adaptação às novas
funções ao mais alto nível do movimento sindical.
O jornal Publico do senhor Belmiro de Azevedo
destacou-se particularmente nesta campanha. Nos três números que saíram até ao
dia em que escrevo este artigo esmeraram-se em análises, teorias, conclusões. O
supra sumo do cinismo, deste trabalho sujo ou ignorante, vem sintetizado no
editorai de domingo, da responsabilidade da direcção e da redacção. Verte
lágrimas de crocodilo porque dois jornalistas foram agredidos pela polícia e
ouve limitação da liberdade de informação. E, ao mesmo tempo que conclui pela
enésima vez que a greve foi fraca, justifica: «a escassíssima minoria que são
os indignados e outros movimentos precisa da violência para dizer que existe e
legitimar o discurso de que não vivemos numa democracia.»
Como
pareceria mal mesmo ao jornal da SONAE na sua lógica de classe não considerar o
Arménio uma das figuras da semana, considera-o como tal mas coloca-lhe em
título o cognome de «O desmobilizador». Mas a pérola mistificatória
encontramo-la, no pequeno texto ilustrativo da fotografia. Diz: «A maior
central portuguesa continua a pensar na greve geral como se ainda estivéssemos
no princípio do século XX, quando o objectivo era parar a produção e privar do
lucro o infame capitalista...O que a CGTP não entende é que no século XXI uma
greve geral é um acto comunicacional: a sua força decorre não apenas da adesão,
mas da discussão pública que a gera».
Sim senhor,
que grande tirada pós-moderna não haja dúvida. Só faltou dizer que o que
incomoda o capitalista não eram as greves de milhares de trabalhadores mas o
acto de uma «escassíssima minoria de indignados (que há um ano tanto
entusiasmaram o Publico e outros quejandos, recorde-se, e eram então centenas
de milhares e os únicos verdadeiros mobilizadores de massas) a atirarem uns
ovos à polícia ou a partirem umas montras de bancos ou repartições de finanças,
porque precisam da violência para dizer que existem.
Nesta
observação para serem melhores analistas também podiam ter escrito que precisam
da capacidade mobilizadora, comunicacional e das manifestações greves
promovidas pela da CGTP-IN para parecerem muitos, se colarem a elas, e
inclusive provocarem os trabalhardes em luta com outros objectivos e tácticas,
porque precisam disso para mostrar que existem. Eu, pessoalmente, na rua de S.
Bento, vi passar por mim na manifestação, olhando-me com um sorriso sardónico
de quem sabe o que está a fazer, uma menina “queque” vestida de PRADA, com um
cartaz tosco e artesanal que dizia “GREVE AOS SINDICATOS”. Depois querem que
tenhamos pachorra para aturar estas e outras.
Desafio aos
TPCO do Público. Se como dizem, os responsáveis ideológicos destas notícias todos
acreditam de facto que a greve é um acto comunicacional, e já não se destina a
privar do lucro o capitalista, façam a verificação científica através da
experimentação. Realizem no Publico uma greve «à moda antiga» de 10 ou 15 dias,
que impeça o jornal de sair, e verifiquem depois as consequências nos
resultados, reivindicações conseguidas ou não, ou o que incomodou mais o senhor
Belmiro, se as perdas de lucro provocadas pela falta de produção do produto ou as
causadas pela vossa arte comunicacional.
Na minha
perspectiva, e assumindo que o Arménio Carlos secretário-geral personifica
perante a imagem pública o grande colectivo de centenas de milhares de
trabalhadores organizados sindicalmente, o maior erro de analise foi o que os
levou a atribuírem-lhe o cognome de «O desmobilizador». Na verdade, se tivessem
um mínimo de objectividade teriam optado pelo mais verdadeiro e merecido: «O
mobilizador». E desiludam-se os que fazem fogo ao alvo humano para atingir a
organização, para já palpita-me que este não é fácil de abater. Mas mesmo que o
conseguissem, outros emergiriam do grande colectivo para honrar o cargo como
pudemos verificar no último congresso.
Desta vez,
um elemento que não é novo, o esgrimir dos números dos participantes nas
manifestações e nas greves, normalmente usado pelo patronato e governo para
descredibilizarem a luta apresentando números falsos, definidos politicamente,
a que os sindicatos não poucas vezes respondem com a mesma arma, acrescentando
números políticos na contra resposta, atingiu foros de paroxismo no ataque à
CGTP-IN, até em alguns meios que se assumem como sendo politicamente de
esquerda.
Houve gente
que se mostrou indignada por a CGTP-IN ter avançado com o número de 300 mil
manifestantes na manifestação do Terreiro do Paço. Uns fizeram comparações com
manifestações anteriores no mesmo local, género concurso, a minha foi maior do
que a tua, ou da auto glorificação, “a minha cara é mais bonita que a tua”.
Outros, puxando dos galões de cientistas políticos ou sociais e expressando
muita pena por a CGTP-IN com tais números se estar descredibilizar, tiraram
medidas ao espaço, avançaram formulas matemáticas e geométricas para se
calcular o número que, naturalmente vinha reduzir a dimensão da grande
manifestação realizada a 11 de Fevereiro. Como diz o povo, “é se morto por ter
cão e por não ter cão”. Na greve geral a CGTP-IN não avançou números,
limitou-se a dizer que foi uma grande greve geral, nem sequer disse que foi a
maior de sempre, caiem-lhe em cima porque está a reconhecer que foi um
fracasso.
Mas o mote
mais glosado para acusar a central de fazer haraquiri foi a “banalização da
greve geral” e também a comparação com a Greve Geral anterior que, em balanço
final conjunto realizado pelos secretários gerais da UGT e da CGTP-IN foi
considerada a maior greve geral de sempre realizada em Portugal, sem que na
altura pela minha parte me tenha apercebido de qualquer contestação a tal conclusão.
Lembro-me ainda de memória de duas grandes manifestações em que os números
avançados pela central foram de 300 mil. A 14 de Janeiro de 1975 na Praça de
Londres em Lisboa e a 29 de Maio de 2010 na Avenida da Liberdade.
Claro que a
questão do número é importante. E não quero dizer que não tenhamos de a ter em
conta para a nossa análise e a nossa acção. É mesmo muito importante porque
quanto mais formos e mais unidos estivermos no nosso agir melhores resultados
obteremos e mais longe chegaremos nos nossos objectivos.
Mas o
esgrimir dos números que estamos a comentar, nos termos em que está a ser feito,
ao contrário do que propalam os arautos da ciência pura para a politica e a intervenção social, não credibiliza as
organizações mas ajuda o patronato e o governo a lançar o desânimo, a divisão e
o descrédito sobre os trabalhadores, as suas organizações, as lutas e as formas
de luta. Aos que nos apontam a necessidade de novas formas de luta e novas
formas de organização, em regra sem adiantarem quais, temos que responder que
continuaremos a lutar com as armas que temos nas formas em que neste momento as
sabemos usar, mas que não rejeitaremos qualquer nova forma de luta, de
organização nem de convergência com outras organizações que se mostre adequada
às lutas que temos pela frente, em defesa dos direitos e interesses dos
trabalhadores e do povo.
O que não
podemos é deixar-nos paralisar ou adiarmos respostas necessárias e inadiáveis
para nos lançarmos na procura de hipotéticos ou teóricos novos paradigmas de
organização e acção não testados, que não emanam do decurso e desenvolvimento
da luta dos trabalhadores, e que põem de lado 200 anos de experiência e
evolução do movimento sindical, correndo nesse caso sim, o risco de diluição e
desaparecimento de tudo o que aprendemos e construímos ao longo desses dois
séculos. E já agora, se juntarmos à análise científica da situação e da
correlação de forças uma boa dose de vontade e de ousadia, só fará bem à luta.
Porque se apenas lutássemos quando temos a certeza de que vamos vencer nunca
haveria luta.
Uma amiga
minha no face-book, imbuída deste repentino zelo geral pelo rigor aritmético na
lua social e política, dizia-me relativamente à manifestação. Eu sou dirigente
sindical, estive lá, e não estavam lá 300 mil. Por causa destas e doutras no
nosso sector deixamos de ter contadores sindicais e passámos a ter contactos
permanentes com a polícia e os números que divulgamos são os que eles contam e
não o dos contadores do sindicato.
No primeiro
comentário registado a esta afirmação podia ler-se: está bem camarada, não
foram 300 000 foram 200 001.
Santa
alienação e santa ingenuidade. Respondi-lhe: Não vês que há os contadores dos
patrões, os contadores do governo, a polícia, os contadores dos sindicatos, e
os mais requintados de todos, os contadores cientistas sociais e políticos com
fórmulas matemáticas, que na sua arrogância científica não sabem ou se esquecem
que a acção política e social podendo ter algo de cientifico a dar-lhe suporte
é também uma arte, praticada de forma antagónica pelos diferentes interesses de
classe em confronto.
Além disso,
nesta questão e nestes termos a esgrima dos números são simples jogos florais
da luta ideológica e política, quiçá muito estimulantes para quem gosta de tais
jogos mas longe do que é fundamental.
Nestas lutas o fundamental não está na
aritmética mas na substância. A questão de fundo é que no dia 11 de Fevereiro
fizemos uma grande manifestação que se impunha em função da situação e dos
objectivos definidos e teve como resultado permitir à CGTP-IN avançar para a
Greve Geral de 22 de Março a partir de um patamar de mobilização e organização
qualitativamente mais elevado. Foi uma grande Greve Geral e por isso, a burguesia
capitalista e os seus porta-vozes arregimentados e bem pagos sentiram tanta
necessidade de amplificar por todos os meus a mensagem de que foi um fracasso,
que a CGTP-IN não a devia ter convocado, por isto e por aquilo, enfim catadupas
de argumentos com o objectivo de lhe retirar o impacto mobilizador e dificultar
a realização das novas lutas que teremos de fazer no futuro. Porque nesta
guerra de guerrilha entre o trabalho e o capital a batalha final ainda está
longe.
Até o dono
do Grupo Jerónimo Martins que recentemente deslocou a sua sede para a Holanda,
para pagar menos impostos, e segundo afirmou, por ter o sagrado direito de
defender o seu património transferindo-o para outros países, e estar longe das
consequências de uma eventual saída de Portugal do Euro, digo eu, teve a
excelentíssima lata de em vésperas da greve vir dizer que “os actuais
sindicatos estão desactualizados e já não respondem aos interesses dos
trabalhadores”. Será que este tubarão quer sindicatos mais fortes e combativos?
No mínimo é caso para se desconfiar.
A MINHA
MAIOR GREVE GERAL DE SEMPRE FOI MENOR NO NÚMERO DE TRABALHADORES QUE NELA
PARTICIPARAM DO QUE NA QUE SE LHE SEGUIU - MAS FOI MIL VEZ MAIOR NOS RESULTADOS
CONCRETOS QUE OBTEVE - NA DIMENSÃO DO AFRONTAMENTO ENTRE AS FORÇAS DO CAPITAL E
AS DO MUNDO DO TRABALHO - E EM NOVOS DINAMISMOS GERADOS NA SOCIEDADE.
Entro neste
jogo, mas digo minha, porque seguramente para os que não participaram nela
haverá outras maiores, particularmente para os muitos trabalhadores que ainda
não tinham nascido naquela altura e participaram nas últimas, e naturalmente,
também para os estudiosos do fenómeno conforme o peso quantitativo e
qualitativo que nos seus estudos dão aos números e aos factos analisados e
considerados.
Foi a Greve
Geral de 12 de Fevereiro de 1982. Já escrevi isso noutro lado e passo a resumir
as razões de tal conclusão: Na mira da direita e do capital estava a primeira
revisão da constituição de 1976 que consagrava uma sociedade progressista
avançada, a reprivatização das empresas nacionalizadas, o desmantelamento da
reforma agrária, e a eliminação de direitos dos trabalhadores.
No final de
1981 o desemprego era já de 8,8%, a inflação ia em 16%, sendo as previsões do
OCDE para Portugal de 25% de inflação em 1982.
O anúncio
feito pelo governo de um tecto salarial de 14,75%, a fim de impedir aumentos salariais
superiores a este tecto no ano seguinte, seguida da intenção de alterar as leis
laborais para facilitar os despedimentos, tornou a situação explosiva no mundo
do trabalho.
Em Dezembro
realizam-se grandes manifestações de protesto promovidas pela CGTP-IN por todo
o país. Entre 4 e 8 de Janeiro cerca de 900 mil trabalhadores, grande parte da
indústria e todos os dos transportes rodoviários e ferroviários, estiveram em
greve por aumentos salariais e a revisão dos seus contractos colectivos.
Seguiu-se durante o mês um encadeamento de greves com elevada adesão. A quinze
de Janeiro o plenário de sindicatos da CGTP-IN delibera por uma Greve Geral de
24 horas no 12 de Fevereiro de 1982.
A encimar o
rol das reivindicações destacam-se a exigência do abandono do pacote laboral e
a revogação do tecto salarial. O lema da greve foi: «Uma só solução – AD fora
do governo». A campanha de intimidação sobre os trabalhadores foi enorme,
dirigida a partir do governo de Pinto Balsemão sob a batuta do senhor Ângelo
Correia, ministro da administração interna, patrão e padrinho do actual
primeiro-ministro, que teve também a prestimosa ajuda da UGT e do seu
secretário-geral de então que na madrugado do dia 12, integrou, juntamente com
policias à paisana, piquetes anti-greve na carris destilando provocações
grosseiras sobre os trabalhadores em luta. Este sim merece o cognome de «O
desmobilizador».
Houve
diversas cargas policias sobres os piquetes de greve, vários feridos e a
repressão sobre os trabalhadores continuou após a greve assumindo foros de
assassinatos no 1º de Maio do Porto desse ano onde uma companhia de policia de
intervenção armada de G3, comandada politicamente pelo seráfico Ângelo Correia
disparou indiscriminadamente sobre os manifestantes. Dois operários foram assassinados
a tiro e foram feridos mais 58, 55 dos quais tiveram que ser tratados nos
hospitais.
Os
resultados deste processo de luta foram desde o inicio assinaláveis: vários
processos de negociação colectiva foram desbloqueados nos dias seguinte à
greve, o tecto salarial foi estilhaçado por aumentos salariais entre os 20% e
30% e a vigências das tabelas salariais que era de 18 meses passou para 12
meses.
O pacote
laboral foi metido na gaveta até “melhor oportunidade” e só veio de lá a sair
no governo maioritário de Cavaco Silva em 1988 provocando outra Greve Geral.
Desta vez com a UGT empurrada pela luta dos trabalhadores a dizer que também a
fazia.
A greve deu
um grande empurrão ao isolamento social do governo que a continuação da luta
por múltiplas formas levou à desagregação e ao seu derrube dez meses depois.
É por isto e
muito mais que seria fastidioso enumerar que para mim esta foi a maior greve
geral de sempre. Até pode não ter sido a que teve maior número de
participantes, se alguém me vier dizer que em número de aderentes foi a de 28
de Março de 1988 contra o pacote laboral ressuscitado por Cavaco Silva seis
anos depois de derrotado, estarei de acordo.
Mas a de 12
de Fevereiro de 1982 foi seguramente aquela em que a intensidade do confronto entre
as forças em presença, entre os prós e contras, foi a mais elevada. Aquela que
atingiu um maior grau de politização. E também aquela que atingiu maior
profundidade e duração no seu impacto social e politico, em resultados
concretos para os trabalhadores. Tire-se a prova real comparando os resultados
concretos de todas as grandes greves gerais que se lhe seguiram, todas por
motivos justos, com diversos graus de adesão, incluindo da maior no número, e
depois discuta-se o valor e peso da forma e o valor e peso da substância.
Aroeira, 25
de Março de 2012
[1]
Sindicalista