26 de novembro de 2024

Sobre bandeiras do PCP na manifestação pela paz em 15 de Fevereiro

Verbo no presente

Vítor Diasin «Avante!» de 27.2.2003

Não vale a pena fin­girmos que não per­ce­bemos, através de múl­ti­plos si­nais, que certos qua­drantes não fi­zeram uma boa di­gestão da sig­ni­fi­ca­tiva pre­sença de ban­deiras do PCP na ma­ni­fes­tação pela paz de 15 de Fe­ve­reiro.

 A este res­peito, há al­gumas coisas que tem de ser ditas sem tardar.

A pri­meira é, desde logo, que os úl­timos a po­derem dis­cutir as ban­deiras dos ou­tros são aqueles mesmos que são lar­ga­mente co­ nhe­cidos por, até em ini­ci­a­tivas de que não são en­ti­dade con­vo­cante e até no 1º de Maio (que é con­vo­cado pela CGTP-IN), des­fi­larem os­ten­si­va­mente com as suas ban­deiras e or­ga­ni­zados em bloco.

A se­gunda é que, neste con­texto, é com­ple­ta­mente ca­reca que só a pro­pó­sito da ma­ni­fes­tação do dia 15 al­guns te­nham des­co­berto as «guer­ri­nhas de ban­deiras nas ma­ni­fes­ta­ções», coisa que cer­ta­mente lhes teria pas­sado des­per­ce­bido se as ban­deiras do PCP ti­vessem fi­cado em casa mas na ma­ni­fes­tação não fal­tassem, como não fal­taram, as ban­deiras das or­ga­ni­za­ções, es­tru­turas ou par­tidos com que eles se iden­ti­ficam.

A ter­ceira é que foi in­tei­ra­mente justo e na­tural que muitos co­mu­nistas (mas nem de perto nem de longe todos os que lá foram) des­fi­lassem no dia 15 com a ban­deira do seu par­tido que, além do mais, era uma das en­ti­dades pro­mo­toras da ma­ni­fes­tação e tão de pleno di­reito como as de­mais.

A quarta é que, como as ban­deiras não andam só­zi­nhas, os in­co­mo­dados de­viam ser mais francos e ter a co­ragem de dizer ou que pre­fe­riam que quem as le­vava não ti­vesse ido à ma­ni­fes­tação ou que en­tendem le­gí­timo e de­mo­crá­tico proibir ma­ni­fes­tantes de exi­birem os sím­bolos da suas con­vic­ções e da sua es­pe­cí­fica con­tri­buição para a luta pela paz.

A quinta é que os que pro­testam contra ale­gadas «he­ge­mo­ni­za­ções e ins­tru­men­ta­li­za­ções par­ti­dá­rias» ou contra «a do­mi­nação dos mo­vi­mentos so­ciais pelos apa­re­lhos par­ti­dá­rios» por al­guma razão se es­quecem sempre de se pro­nun­ciar com igual vigor contra a do­mi­nação e ins­tru­men­ta­li­zação dos par­tidos – ou de ini­ci­a­tivas uni­tá­rias - por ou­tras es­tru­turas, or­ga­ni­za­ções e per­so­na­li­dades.

A sexta é que é ab­so­lu­ta­mente in­to­le­rável que al­guns que tanto falam contra as «par­ti­da­ri­za­ções» e tanto pro­clamam a justa plu­ra­li­dade e di­ver­si­dade do mo­vi­mento de opi­nião contra a guerra, são os que não he­sitam em apre­sentar ini­ci­a­tivas que são na prá­tica do seu par­tido como ini­ci­a­tivas do «mo­vi­mento contra a guerra», como se al­guma parte - pe­quena ou grande - pu­desse falar pelo todo.

A sé­tima é que, ca­re­cido de tomar chá de tília, bem pode Mi­guel Portas («DN» de 20/​2) iden­ti­ficar os co­mu­nistas como «as ge­ra­ções que lu­taram» (verbo no pre­té­rito per­feito) porque a re­a­li­dade da luta contra a guerra e todas as ou­tras lutas aí estão a mos­trar que a única forma de iden­ti­ficar hoje os co­mu­nistas é como as ge­ra­ções que mais lutam (verbo no in­di­ca­tivo pre­sente).

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