21 de dezembro de 2024

Mais trancadas sobre o caso do Martim Monoz

 João Miguel Tavares no «Público»
( Eu não o aprecio mas desta vez acertou)

«(...)Foi, portanto, uma operação de marketing policial desligada de qualquer suspeita de crimes concretos que recorreu a todo aquele aparato e àquela brutal violência simbólica para tranquilizar os “portugueses de bem” – os tais que andam a sentir-se muito inseguros, mesmo não estando a ser vítimas de muitos crimes, segundo a notável teoria do senhor primeiro-ministro. E quais foram os resultados práticos de tão tremenda operação? Segundo a PSP, foram detidas duas pessoas e apreendidos – segurem-se bem – 3435 euros, um passaporte, uma faca com uma lâmina superior a dez centímetros, um telemóvel que constava como furtado e meio quilo de haxixe.
É como na anedota brejeira: tanta dinamite para um rastilho tão pequeno. E já que passou a valer tudo, deixo aqui uma sugestão: na próxima segunda-feira, proponho que a PSP vá fazer o mesmo tipo de “operação especial de prevenção criminal” para o El Corte Inglés ou para as Amoreiras, que é véspera de Natal e há imensa gente para encostar à parede. A colheita ao nível de estafetas da Glovo vai ser mais fraca do que no Martim Moniz, mas encontrarão certamente imensos gramas de haxixe, cocaína da boa e vários suspeitos de esconderem mais do que 3435 euros em offshores. Eu iria sentir-me muito mais seguro. (...)»

Pacheco Pereira desanca no PSD (no «Público»)

(...)A operação do Martim Moniz foi feita para este mundo de insatisfação, ressentimento, culpabilidade dos outros, de medo. É por isso que, no caso das pessoas encostadas à parede na Rua do Benformoso, neste caso, o Governo do PSD e CDS comportou-se como o Chega, em ideologia, em política, em racismo e actuou como o Chega. Ora Chega já basta um,

( ...)

Mas se se quer falar de crimes, quando é que são encostados à parede os que vivem do emprego ilegal, pagando salários de miséria, sem quaisquer direitos laborais, os que obrigam a trabalhar em condições extremas em temperaturas altíssimas nas estufas, os que exploram esse proletariado da bicicleta que atravessa as nossas cidades com mochilas de alimentos a qualquer hora do dia ou da noite.(...)»

Desses emigrantes há muito quem goste porque vive de os explorar. E sentam-se nas mesas das altas negociações com o Governo em nome da “modernização da agricultura” ou do turismo, e são recebidos com todos os salamaleques, que por acaso é uma palavra de origem árabe. Ou os que nunca mais permitem a construção de uma mesquita no Martim Moniz para atirar os muçulmanos para mesquitas ilegais em apartamentos onde grassa o fundamentalismo, ou que os obrigam a orar na rua, para ainda acentuar mais o medo da ignorância.»



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