Gratidão ? Não conheço ! (título meu)
«No livro de MÁRIO SOARES «Um político assume-se», que acaba de ser publicado, há vários erros de facto e lapsos de memória que podem ser confundidos com uma tendência (inesperada num grande democrata) para apagar personagens da fotografia da (pequena e grande) história. Apenas meia dúzia de exemplos:
– Na página 194, quando, já ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares lembra que «tinha convidado o meu amigo, e então militante do PS, Victor Cunha Rego para ser meu chefe de Gabinete», e a seguir se refere ao «excelente diplomata (…) Sá Machado», que nomeou seu assessor e, depois, chefe do seu Gabinete, em substituição de Victor Cunha Rego – bem podia ter recordado que, também nessa altura, convidou e nomeou Alfredo Barroso para o cargo de director dos Serviços de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros
– Na página 194, quando, já ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares lembra que «tinha convidado o meu amigo, e então militante do PS, Victor Cunha Rego para ser meu chefe de Gabinete», e a seguir se refere ao «excelente diplomata (…) Sá Machado», que nomeou seu assessor e, depois, chefe do seu Gabinete, em substituição de Victor Cunha Rego – bem podia ter recordado que, também nessa altura, convidou e nomeou Alfredo Barroso para o cargo de director dos Serviços de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros
; – Na página 242, onde está escrito: «…a chamada questão da unicidade sindical, termo inventado pelo Zenha, creio, para distinguir a unidade da unicidade» – é óbvio que a palavra «creio» está a mais, porque toda a gente sabe, a começar pelo próprio Mário Soares, que foi o Zenha quem lançou para a discussão pública o termo «unicidade», num célebre e polémico artigo publicado no «Diário de Notícias»;
– Na página 242, algumas linhas mais abaixo, onde está escrito: «O Catanho de Meneses e o Lopes Cardoso propuseram-se vir ao Algarve para discutir comigo os detalhes e a mobilização dos camaradas (…). Não chegaram a encontrar-se comigo porque tiveram um desastre de automóvel perto de Santiago do Cacém…» – devia estar escrito: «O Catanho de Meneses e o Manuel Alegre…» (porque foi este, e não Lopes Cardoso, que teve o desastre com Catanho de Meneses);
– Nas páginas 295 e seguintes, quando Mário Soares se refere ao I e ao II Governos constitucionais – que «contribuíram para assegurar a normalização política democrática do nosso país» – já o cargo de chefe de Gabinete do primeiro-ministro não merece qualquer referência (ao contrário do que sucedeu com o de chefe de Gabinete no MNE), mas a verdade é que o primeiro-ministro Mário Soares nomeou Alfredo Barroso como seu chefe de Gabinete, quer no I quer no II Governos constitucionais;
– Na página 357, a propósito da constituição do MASP em 1985, menciona «Fraústo da Silva, mandatário nacional» e «Gomes Mota, director de campanha», mas esquece-se que nomeou Alfredo Barroso como chefe de Gabinete do candidato, incumbido de coordenar e supervisionar os tempos de antena, a elaboração de discursos e textos de propaganda eleitoral, assim como a concepção e realização dos cartazes da campanha, entre outras atribuições; – Na página 357, poucas linhas mais abaixo, menciona «Estrela Serrano para os (tempos de antena) da rádio», mas esquece-se de mencionar que o principal responsável por esses tempos de antena na rádio foi o jornalista José Manuel Nunes;
– Nas 80 páginas (345 a 425) do capítulo XII, dedicadas aos seus dois mandatos como Presidente da República (1986-1996), não é feita a menor referência aos seus colaboradores mais próximos (salvo na página 398, em que se refere a «um almoço político» com o presidente De Klerk, em Pretória: «Lá fui acompanhado do meu chefe de Gabinete, o embaixador Nunes Barata, e do embaixador Cutileiro»). Mas a verdade é que Alfredo Barroso foi o chefe da Casa Civil do PR durante os seus dois mandatos (dez anos) e, durante os últimos três anos, acumulou essas funções com as de chefe de Gabinete do PR (quando Nunes Barata foi nomeado embaixador de Portugal em Roma). Isto, para já nem falar dos generais Conceição Silva e Carlos Azeredo, que foram, sucessivamente, chefes da sua Casa Militar.
– Na página 520 (bibliografia do autor), refere-se o livro PS, Fronteira da Liberdade – Da Queda do Gonçalvismo às Eleições Intercalares 1975-1979 como tendo sido publicado em 1974 (o que é uma incongruência), quando o livro foi, de facto, publicado em 1979, com prefácio, selecção e coordenação de textos de Alfredo Barroso (o que não é mencionado, ao contrário do que sucede com outros livros referidos na bibliografia). Assim como também não é mencionada a selecção e coordenação de Alfredo Barroso no livro Democratização e Descolonização – dez meses no Governo Provisório, publicado em 1975 (e mencionado na página 521).
Só mais duas curiosidades, para terminar:
Primeira – Não deixa de ser curioso fazer uma comparação entre os justos «agradecimentos» que constam da página 517 deste livro de Mário Soares, Um político assume-se (a José Manuel dos Santos, Alfredo Caldeira, Osita Eleutério e Maria José Ribeiro) e o agradecimento que consta da página 159 do livro de Mário Soares, Elogio da Política, publicado em 2009: «Agradeço a Maria José Ribeiro, minha fiel secretária desde 1976, o trabalho que, mais uma vez, teve a dactilografar – por duas vezes – este livro». Sei bem por que razão a Maria José Ribeiro teve de dactilografar este livro duas vezes. De facto, Mário Soares pediu-me que lesse o livro de uma ponta à outra, e a verdade é que detectei muitas incorrecções e erros (alguns de palmatória), que muito aborreceram Mário Soares, que se viu constrangido a reescrever o livro. Daí ele ter sido dactilografado «por duas vezes». Todavia, o meu trabalho de revisão não mereceu qualquer agradecimento, nem público, nem privado. Pelo contrário, mereceu apenas um telefonema (do Algarve) em que o autor do livro, manifestamente enfadado, me disse mais ou menos isto: «Eh pá, desta vez exageraste, e agora estou aqui a ter um trabalhão!…».
Segunda – Também não deixa de ser curioso que alguém que foi, durante quase um quarto de século, o colaborador mais próximo de Mário Soares, tanto no plano político como no plano pessoal, seja por ele mencionado apenas uma vez, no meio de uma lista de apoiantes do MASP (página 356), num «ensaio autobiográfico» que tem muito de «político» e bastante pouco de «ideológico». Mas a verdade é que esse colaborador foi (são factos): director dos Serviços de Informação e Imprensa do MNE durante os seis Governos provisórios; secretário-geral da Presidência do Conselho de Ministros; chefe de Gabinete do primeiro-ministro, Mário Soares, nos I e II Governos constitucionais; deputado à Assembleia da República; secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros do IX Governo constitucional (o governo do chamado «bloco central»); chefe da Casa Civil do Presidente da República, Mário Soares, durante os seus dois mandatos (1986-1996). Além de ter sido: membro da Acção Socialista Portuguesa (ASP); um dos membros fundadores do Partido Socialista; membro da Comissão Política do PS durante vários anos; fundador e primeiro director do semanário do PS, «Acção Socialista», durante cinco anos; chefe de Gabinete do candidato a PR, Mário Soares, na campanha de 1985-1986; e director de campanha da recandidatura de Mário Soares a PR em 2005-2006. E, já agora, além de ter saído da política activa, em 1996, tal como tinha entrado: sem cheta! Seguindo o exemplo da maioria dos políticos da I República.
Em suma: não sendo trotskista por convicção ideológica, tornei-me trotskista por elisão fotográfica… E já estou a caminho do anonimato! Abraços para todos, saudações democráticas e… no hard feelings!» Alfredo Barroso
– Na página 242, algumas linhas mais abaixo, onde está escrito: «O Catanho de Meneses e o Lopes Cardoso propuseram-se vir ao Algarve para discutir comigo os detalhes e a mobilização dos camaradas (…). Não chegaram a encontrar-se comigo porque tiveram um desastre de automóvel perto de Santiago do Cacém…» – devia estar escrito: «O Catanho de Meneses e o Manuel Alegre…» (porque foi este, e não Lopes Cardoso, que teve o desastre com Catanho de Meneses);
– Nas páginas 295 e seguintes, quando Mário Soares se refere ao I e ao II Governos constitucionais – que «contribuíram para assegurar a normalização política democrática do nosso país» – já o cargo de chefe de Gabinete do primeiro-ministro não merece qualquer referência (ao contrário do que sucedeu com o de chefe de Gabinete no MNE), mas a verdade é que o primeiro-ministro Mário Soares nomeou Alfredo Barroso como seu chefe de Gabinete, quer no I quer no II Governos constitucionais;
– Na página 357, a propósito da constituição do MASP em 1985, menciona «Fraústo da Silva, mandatário nacional» e «Gomes Mota, director de campanha», mas esquece-se que nomeou Alfredo Barroso como chefe de Gabinete do candidato, incumbido de coordenar e supervisionar os tempos de antena, a elaboração de discursos e textos de propaganda eleitoral, assim como a concepção e realização dos cartazes da campanha, entre outras atribuições; – Na página 357, poucas linhas mais abaixo, menciona «Estrela Serrano para os (tempos de antena) da rádio», mas esquece-se de mencionar que o principal responsável por esses tempos de antena na rádio foi o jornalista José Manuel Nunes;
– Nas 80 páginas (345 a 425) do capítulo XII, dedicadas aos seus dois mandatos como Presidente da República (1986-1996), não é feita a menor referência aos seus colaboradores mais próximos (salvo na página 398, em que se refere a «um almoço político» com o presidente De Klerk, em Pretória: «Lá fui acompanhado do meu chefe de Gabinete, o embaixador Nunes Barata, e do embaixador Cutileiro»). Mas a verdade é que Alfredo Barroso foi o chefe da Casa Civil do PR durante os seus dois mandatos (dez anos) e, durante os últimos três anos, acumulou essas funções com as de chefe de Gabinete do PR (quando Nunes Barata foi nomeado embaixador de Portugal em Roma). Isto, para já nem falar dos generais Conceição Silva e Carlos Azeredo, que foram, sucessivamente, chefes da sua Casa Militar.
– Na página 520 (bibliografia do autor), refere-se o livro PS, Fronteira da Liberdade – Da Queda do Gonçalvismo às Eleições Intercalares 1975-1979 como tendo sido publicado em 1974 (o que é uma incongruência), quando o livro foi, de facto, publicado em 1979, com prefácio, selecção e coordenação de textos de Alfredo Barroso (o que não é mencionado, ao contrário do que sucede com outros livros referidos na bibliografia). Assim como também não é mencionada a selecção e coordenação de Alfredo Barroso no livro Democratização e Descolonização – dez meses no Governo Provisório, publicado em 1975 (e mencionado na página 521).
Só mais duas curiosidades, para terminar:
Primeira – Não deixa de ser curioso fazer uma comparação entre os justos «agradecimentos» que constam da página 517 deste livro de Mário Soares, Um político assume-se (a José Manuel dos Santos, Alfredo Caldeira, Osita Eleutério e Maria José Ribeiro) e o agradecimento que consta da página 159 do livro de Mário Soares, Elogio da Política, publicado em 2009: «Agradeço a Maria José Ribeiro, minha fiel secretária desde 1976, o trabalho que, mais uma vez, teve a dactilografar – por duas vezes – este livro». Sei bem por que razão a Maria José Ribeiro teve de dactilografar este livro duas vezes. De facto, Mário Soares pediu-me que lesse o livro de uma ponta à outra, e a verdade é que detectei muitas incorrecções e erros (alguns de palmatória), que muito aborreceram Mário Soares, que se viu constrangido a reescrever o livro. Daí ele ter sido dactilografado «por duas vezes». Todavia, o meu trabalho de revisão não mereceu qualquer agradecimento, nem público, nem privado. Pelo contrário, mereceu apenas um telefonema (do Algarve) em que o autor do livro, manifestamente enfadado, me disse mais ou menos isto: «Eh pá, desta vez exageraste, e agora estou aqui a ter um trabalhão!…».
Segunda – Também não deixa de ser curioso que alguém que foi, durante quase um quarto de século, o colaborador mais próximo de Mário Soares, tanto no plano político como no plano pessoal, seja por ele mencionado apenas uma vez, no meio de uma lista de apoiantes do MASP (página 356), num «ensaio autobiográfico» que tem muito de «político» e bastante pouco de «ideológico». Mas a verdade é que esse colaborador foi (são factos): director dos Serviços de Informação e Imprensa do MNE durante os seis Governos provisórios; secretário-geral da Presidência do Conselho de Ministros; chefe de Gabinete do primeiro-ministro, Mário Soares, nos I e II Governos constitucionais; deputado à Assembleia da República; secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros do IX Governo constitucional (o governo do chamado «bloco central»); chefe da Casa Civil do Presidente da República, Mário Soares, durante os seus dois mandatos (1986-1996). Além de ter sido: membro da Acção Socialista Portuguesa (ASP); um dos membros fundadores do Partido Socialista; membro da Comissão Política do PS durante vários anos; fundador e primeiro director do semanário do PS, «Acção Socialista», durante cinco anos; chefe de Gabinete do candidato a PR, Mário Soares, na campanha de 1985-1986; e director de campanha da recandidatura de Mário Soares a PR em 2005-2006. E, já agora, além de ter saído da política activa, em 1996, tal como tinha entrado: sem cheta! Seguindo o exemplo da maioria dos políticos da I República.
Em suma: não sendo trotskista por convicção ideológica, tornei-me trotskista por elisão fotográfica… E já estou a caminho do anonimato! Abraços para todos, saudações democráticas e… no hard feelings!» Alfredo Barroso
2 comentários:
LOL. O ego de Mário Soares é inverso à sua memória. Depois de re-escrever a história na sua alentada entrevista a Maria João Avillez, de modo a surgir como um político de elevadas, sublimes e divinas visão e gabarito a posteriori, bem-haja o mefistélico Barroso, por levantar o dedo e dizer "Mas eu estou aqui!"
Mas ... depois do Mateus, talvez o Barroso pudesse escrever, co conhecimento de causa, um livro sobre a pequena grande história do PS e Só-Ares mais os seus boys e girls.
É uma lição para quem adulou e bajulou o Dr. Soares, que, já o devia saber, não passa (nunca passou) de um narcisista, oportunista e aproveitador...
Basta sentir-lhe o aperto de mão - mole, sem calor humano... Isso define logo uma pessoa.
Foi esse aperto de mão - sem alma - que me fez saber, de há muito (era eu um jovem) que esse homem, Mário Soares, não era o tal tipo "fixe" que se propagandeava.
Muita coisa ainda se terá de descobrir desse oportunista, que viveu o exílio em hotéis de luxo...
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